Um dos mais fecundos e versáteis compositores da cidade de Salvador, reconhecido como um mestre griô e expressivo representante das tradições culturais do bairro que lhe empresta o nome, Reginaldo Souza, o Seu Regi de Itapuã, lança o álbum Minha Caminhada, seu primeiro trabalho individual.
A produção apresenta um compositor no auge da maturidade de quem cria versos e melodias desde os 13 anos de idade, passeando com desenvoltura pelos mais diversos gêneros musicais que fazem parte do nosso cancioneiro popular. Ainda que o samba seja o “carro-chefe” de sua musicalidade, o repertório de Seu Regi de Itapuã contempla uma rica variedade de ritmos, além de diferentes estilos dentro do próprio samba. Dessa maneira, as 13 faixas que integram o álbum Minha Caminhada são um “cartão de visitas” fiel à diversidade musical de sua obra, incluindo samba, baião, ciranda, maxixe, bolero e ijexá.
O disco foi gravado na Casa do Músico, em Itapuã, e contou com a participação de diversos músicos da localidade, incluindo os arranjadores Amadeu Alves e Pedrão Abib, que assinam juntos a direção artística e musical do álbum. Além de companheiros de longa data de Seu Regi, são parceiros de canções, saraus, rodas de samba e apresentações musicais do compositor.
Os responsáveis pelos arranjos de Minha Caminhada também atuam como músicos e intérpretes nas faixas em que dividem a parceria com Reginaldo Souza - Amadeu Alves na ciranda “Areia branca” e Pedrão Abib no samba “Festa de Itapuã”. Outras participações especiais no disco ficam por conta de Roberto Ribeiro, em “No vai e vem da maré” (parceria do músico itapuanzeiro com Seu Regi); Juliana Ribeiro, em “Lição de vida”, única regravação do álbum; Tonho Matéria, no ijexá “Oração de pescador” (parceria de Seu Regi com Cuca); e Maria Pinheiro, no maxixe “Pé de juá”. A produção musical do trabalho foi realizada por Adson Santana e a produção executiva, por André Carvalho.
De “Cantador do Sertão”, baião que abre o disco e que serve como um pedido de licença e agradecimento, a “Minha caminhada”, faixa-título que encerra os trabalhos e simboliza a sua trajetória de mais de 60 anos como compositor, Seu Regi traz a marca da simplicidade na criação e na interpretação, conceito que se estende aos arranjos e à toda a produção artística do disco.
Essa maneira simples de viver e de aprender com as pequenas coisas do cotidiano fica evidente em dois sambas clássicos de seu repertório que integram o álbum: “Aprendiz do mundo” (“Eu já não sou mais quem eu era / Quem eu era já não sou / Se eu mudei, foi pra melhor / O mundo que me ensinou”) e “Mestre” (“Sou mestre, não / Sou mestre, não / Vivo a vida toda aprendendo a lição”). O sentimento de solidariedade também é revelado em passagens como “Mas se alguém chegar com fome / Seja mulher, seja homem / A gente vai dividir / Se estiver com a criança / Que também esteja com fome / Corra e vá metendo a mão / E nem precisa me pedir”, na já citada “Cantador do Sertão”, ou em “História de Itapuã”, onde canta “Puxada de rede, toda hora tinha / O meu pai pescava, minha mãe dizia / O peixe é muito, não dá pra eu guardar / Eu vendo um tanto, outro tanto vou dar”. Completam o álbum o bolero-sofrência “É hora de falar de amor” e o baião “Garimpeiro”.
O projeto é fruto de uma parceria entre o Espaço Cultural Casa Verde e o coletivo É Samba da Bahia! (ÉSBA!) e foi contemplado pelo Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020, tendo apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.